<$BlogRSDUrl$>




  • 25.4.06
    Onde é que você estava no 25 de Abril?!

    A Susana repete, e muito bem, a pergunta que fez há dois anos o Jumento. Aproveito a deixa para republicar a minha resposta, uma vez que o Quase em Português, na altura, só tinha uma pequena fracção dos leitores que tem hoje.

    Eu? No 25 Abril 1974?

    Não vivia em Portugal e isso tem de servir de desculpa porque não me lembro do que fiz neste dia.
    Tinha catorze anos e vivia em Brüggen, uma vila alemã mesmo muito pacata perto da fronteira holandesa. Sei que na altura andava com a Elke, que era a filha do chefe de polícia da capital do distrito, que o Willy Brandt se demitiu duas semanas mais tarde (isso fui verificar agora no Google) e que mais tarde no ano caiu o Nixon (sabia isso ainda sem ajuda do Google). Também ganhámos o campeonato do Mundo neste ano...

    Mas lembro me bem dum Sábado no fim deste verão, onde o meu primo Michael, dez anos mais velho que eu e estudante em Berlim, apareceu numa festa de família - um baptizado - com uma pilha de discos: "Poder Popular".
    O meu primo tinha-se deslocado este verão, como muitos dos seus colegas, para Portugual com o fim de ajudar para que a revolução tome o caminho certo. Agora estava de volta e com a venda destas gravações de canções revolucionários, feitas numa cooperativa alentejana, tentava angariar fundos para a boa causa. Depois ia voltar à Berlim e prosseguir com os seus estudos. Era um rapaz ajuizado.

    Lembro me bem porque isso animou a festa, que antes disso era, como todas as festas deste género, dum tédio insuportável. Adorei o debate que se desenrolou, e que foi principalmente protagonizado, para além do meu primo, pelo meu pai e pelo meu tio Emil (Ex Waffen-SS), e adorei como implacávelmente ignoravam todas as tentativas desesperadas dos meus outros tios, todos beatos, de amenizar o clima e desviar a conversa. Também devo ter contribuido com a minha opinião - era bom em opinar nestes tempos, muito melhor do que hoje.
    O meu pai acabou por comprar dois discos, para compensar pelo tio Emil, que era o único que não comprou nenhum. Até os meus tios beatos compraram discos, provavelmente na esperança de assim acabar com a discussão...

    Nesta altura não me coloquei a pergunta que me intriga hoje: O que é que os portugueses achavam de todos estes auto-proclamados instrutores da revolução, que, depois do fracasso do Maio '68 em casa, e cientes de que na RFA ninguém lhes ligava nenhuma, se julgavam com vocacão para ensinar aos pobres portugueses o verdadeiro caminho para a sociedade sem classes?
    ______________

    Quando hoje passo pelo Alentejo, reparo, sempre com bastante incómodo, em alguns deles que ficaram, ou talvez uns anos mais tarde voltaram de vez, com uma pequena herança no bolso e o sonho de uma vida simples mas confortável na mente, e se estabeleceram como agricultores ecológicos, ou, depois disto se ter revelado demasiado árduo, como agentes imobiliários que vendem a Costa Vicentina aos meus compatriotas que ainda não realizaram a sua fuga da inhumana sociedade alemã...

    This page is powered by Blogger. Isn't yours?

    Creative Commons License