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  • 29.4.06
    Fame

    “E se em todo o mundo uma em cada duas pessoas me lesse, ainda perguntar-me-ia o que, caramba, os outros andam a fazer.”*

    Quem escreve com fins literários quer exprimir-se e quer ser ouvido. Mas nem todos têm a sorte de Margarida Rebelo Pinto, cujos anseios, angústias, medos e sonhos, reflexões e verdades íntimas têm a qualidade de serem exprimíveis numa linguagem que está ao seu alcance como também ao de dezenas de milhares de leitoras, que as partilham.
    Outros tiveram de fazer uma escolha. O “Nós Pimba”-Emanuel, por exemplo, vi uma vez num debate na televisão defender o valor do que faz, com inteligência e pertinência. Afirmou que encontra satisfacção, uma satisfacção até altruista e nobre, em ser objecto dos sonhos húmidos de muitas e muitas mulheres frustradas do Portugal profundo, e mais, uma luz e um estímulo na sua vida. Acreditei, mas não consegui deixar de imaginá-lo em casa a ouvir Mozart às escondidas e sofrer com o fosso que o separa dele, não só em qualidade mas em sinceridade.

    O amigo olha para mim: Vá lá, deixa-te de coisas, tu também queres leitores, quanto mais, melhor, como todos. - É verdade, mas há um límite para além de que não estou disposto a deixar este desejo influenciar aquilo que quero comunicar, nem a forma como.
    Podem, incrédulos, achar essa afirmação desonesta, uma racionalização do insucesso, uma tentativa de transformar um fracasso numa escolha deliberada, adoçada com a aura de desinteressado e nobre. Não é que essa explicação psicológica não podia estar acertada - nego-o no meu caso, claro -, mas ao lado dela existe uma explicação simples e racional: O que me serve conseguir comunicar a muitos, se aquilo que comunico deixou de conter o que sou?

    O reconhecimento ambicionado não se mede para todos em dinheiro, nem pelo grau de notoriedade, nem só pelo número dos leitores. Verifiquei-o quando, com quinze visitas diárias, recebi os primerios links de bloggers que estimava. O que me levou a citar Phil Collins:
    In the beginning, I didn't set out to be famous. I was just a drummer who wanted to be respected by other drummers who I respected.


    * Cito de memória já não sei quem, que foi referido por já não sei quem. Shaw? Pedro Mexia?

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