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1.3.06
A ouvir no player. O nosso vizinho era um padeiro precocemente reformado por causa de doênça cardíaca, que vivia com a mulher e a sua filha única de quinze anos, Marianne, numa bruta moradia ao lado da nossa. De acordo com a moda da altura tinha instalado uma sala de festas na cave. Esta sala consistia principalmente num bar, feito em madeira de pinho cujo aspecto rústico fora reforçado pelo seu recorte ornamental e pelo escurecimento artificial dado com uma chama de gás. Nas prateleiras do bar, em frente de espelhos e emoldurado por cortinados da mão da sua mulher, encontrava-se uma ampla selecção de bebidas espirituosas, iluminada indirectamente e a cores. O restante mobiliário limitava-se aos bancos a frente do bar e a uma mesa de café com algumas cadeiras, pois era necessário deixar algum espaço para a dança. Falta referir a aparelhagem de som e a peça príncipal da iluminação, um tubo de “luz negra”, que fazia, quando se apagava a restante iluminação, reluzir a roupa branca, efeito que realçava as camisas e os soutiens debaixo do vestiário de malha menos apertada. Como o pai da Marianne não podia usufruir da sua sala na cave com a frequência e intensidade como talvez quizesse, por causa da saúde, então via com bons olhos que a sua filha o fazia. Eu só tinha doze anos mas era alto, tinha cabelo comprido até aos ombros e um fato de ganga preto, o que me habilitava como convidado regular das festas que ela dava nos fins de semana para mim, outro rapaz da vizinhança ainda mais novo do que eu e as amigas da escola dela, estas já da sua idade. E assim, enquanto durante da semana rastejava no pinhal com a minha Kalashnikov fabricada a partir de um bocado de ripa, varão de cortinado e uma lata de tabaco (o magazine), a brincar a “guerra dos seis dias” com os meus amigos, no fim de semana aprendi na sala da Marianne a beber cerveja com palhinha, dançar o “blues apertado” e rodar a garrafa por beijos. E conheci músicas que não ouvia em casa: Middle of the Road: “Yellow Boomerang”, Slade: “Goodby to Jane”, Sweet: “Wig Wam Bam”, T.Rex: “Jeepster” e então “Back home” dos Golden Earring. Com instinto de que hoje ainda me orgulho apercebi-me que os últimos dois grupos eram bem superiores aos outros, e porque o erotismo demasiado explícito de Marc Bolan me assustava, foram os Golden Earring o primeiro grupo rock de que fiquei fã. Podia ter me saído pior. |
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