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  • 10.1.06
    Horário

    Pouco distingue o modo de vida, que caberia a um intelectual, tão profundamente daquele do burguês como que o primeiro não aceita a alternativa entre trabalho e prazer. Trabalho, que não tem de fazer antes, para poder responder à realidade, todo o mal ao seu sujeito, que deve fazer depois aos outros, é prazer ainda no esforço mais desesperado. A liberdade que ele visa, é a mesma que a sociedade burguesa reserva somente ao recreio e que revoga com a tal regulamentação ao mesmo tempo. Por outro lado é àquele que sabe da liberdade todo a diversão tolerada por esta sociedade insuportável, e fora do seu trabalho, que porém inclui aquilo que os burgueses reservam como "cultura" para os tempos livres, não se quer entregar a nenhum prazer substituto. Work while you work, play while you play - conta entre as regras básicas da auto-disciplina repressiva. Pais, para quais foi uma questão de prestígio que o seu filho traz para casa boas notas, menos do que todos os outros gostavam que este lia demasiado tempo a noite ou de qualquer forma - no seu critério - se esforçava excessivamente. Da sua tolice falava o
    ingenium da sua classe. A doutrina desde Aristóteles ensinada da moderação como virtude adequada à razão é entre outro a tentativa de fundamentar a socialmente necessária divisão do homem em funções independentes entre si, tão fortemente, que a nenhuma delas se dá de transitar para outra e assim lembrar o homem. Tão pouco podiamos imaginar Nietzsche no gabinete, com a secretária a guardar o telefone na antecâmara, na mesa de trabalho até as cinco, como ao jogar golf depois do trabalhgo do dia. Só o entrusamento engenhoso entre felicidade e trabalho mantém, debaixo da pressão da sociedade, ainda aberto a experiência genuina. Ela é cada vez menos tolerada. Através do assemelhamento ao negócio também as assim chamadas profissões intelectuais estão a ser despidos do prazer. A atomização avança não só entre os homens, mas também dentro de cada indivíduo, entre as diversas esfgeras da sua vida. Nenhuma satisfação plena deve afixar-se ao trabalho, que assim perdia a sua modéstia funcional na totalidade dos fins, nenhuma faísca de senso pode caír na esfera do lazer, pois podia saltar para a esfera do trabalho e incendiá-la. Enquanto na estrutura trabalho e diversão se assemelham cada vez mais, a sua separação através de fronteiras invisíveis está cada vez mais rigorosa. De ambas foram expulsas prazer e sentido. Aqui e acolá reinam a seriedade fanática e o pseudo-activismo.

    (Theodor W. Adorno, em Minima Moralia, 1945)

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