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  • 16.12.05
    O homem sem qualidades

    (Salvo seja.)

    Não é a primeira vez que reparo em dificuldades de me fazer entender, que leitores atribuem aos meus posts um sentido em função duma (pres)suposta posição minha, que efectivamente não ocupo.
    Sei que é inevitável, para compreender o quer que seja, conceber um contexto, ao menos a título provisório, uma posição de onde fala quem fala.
    Talvéz eu tenha mais dificuldades do que outros em facultar tais referências. Para além das dificuldades que todos partilham que usam este meio internet, deverá contribuir minha condição de estrangeiro, o facto de realmente não partilhar uma socialização com os meus interlocutores, pois nem militei em qualquer grupo político, nem pertenci a qualquer grupo social ou tribo, que lhes é familiar e lhes facilitaria a minha identificação através das suas ideosincrasias.
    Mas penso que não é só isso.
    Sempre procurei e esforcei-me em não pertencer a grupos e tribos, por receio e reluctância de assimilar o seu pensamento. O resultado é que em muitas áreas não tenho convicções firmes e argumentações consolidadas. Isso tem defeitos e vantagens, de qualquer forma, é algo que está para além do meu poder de escolha.

    Assim, caio de vez em quando no uso de ironia, não me apercebendo que, sem contexto claro, ela é irreconhecível ou pelo menos ambígua. Mas não acho a ambiguidade tão má. Talvéz irrita o leitor mas com sorte leva-o também a questionar o contexto em que o problema está posto.
    E para lá da ironia, é verdade que faço uso, e isso com um empenho quase programático, da ingenuidade intencional. Um bom exemplo é, acho, o meu post Interrogatório (2).
    Não ignorava que essa pergunta podia ser interpretada como uma acusação moralista, contra qual uma defesa num ambiente em que rareia a boa fé – como costuma sê-lo o do combate político – seria muito difícil. Mas se há um propósito no Quase em Português, ele é mesmo este: de possibilitar um debate em que haja boa fé. E o dispositivo mais imediato e simples é falar como se ela existisse.
    Não JPT, não acho que houve falta.

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