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13.11.05
Nota autobiográfica III
O meu pai, que tinha aprendido a profissão de gráfico, e a minha mãe conheceram-se no comboio que partilhavam no seu caminho para o emprego, no caso do meu pai, e para a escola para educadoras infantís, no caso da minha mãe, que tinha conseguido impôr a família essa segunda formação, desde que ela ficou, nos anos cinquenta, um pouco mais remediada. Descobriam que partilhavam interesses que extravazavam o mundo que lhes calhou por nascença: pela poesia, pela arte, pela história e filosofia, - e começavam a namorar. Descobriam também que, embora os unia a sua condição social, os afastava um obstáculo quase inultrapassável. A minha mãe era evangélica e o meu pai católico, e para ambas as famílias a ideia dum casamento interconfissional era algo absolutamente inimaginável. O seu namoro demorou cinco anos, até o meu nascimento iminente obrigou as famílias a escolher a vergonha menor. Não tenho à mão as fotografias do casamento, se não mostrava-as aqui: nenhuns sorrisos, as caras de quase todos, avôs, tios e tias, máscaras da censura moral. Com custo a minha mãe conseguiu impôr que casava em branco, apesar de já não ser vírgem. |
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