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12.11.05
Nota autobiográfica I
O meu avô paterno era mestre carpinteiro, que tinha uma oficina própria de que ainda me lembro: das ocasiões em que ele – já semi-reformado - me levou consigo, para fabricarmos barcos e carrinhos de brincar. Lembro-me do barracão de tábuas grossas, das ferramentas antiquadas, da luz filtrada pelo pó de serradura e do fumo do seu inevitável cachimbo, cujo cheiro a tabaco barato nunca esquecerei. A minha avó, que na juventude estava "em serviço" como empregada domêstica interna, e tinha conseguido casar com um mestre artesão, nunca-lhe perdoou que a ascensão social, que ela ansiava e que achava devida ao estatuto profissional do seu marido, nunca se concretizou: A falta de espírito empresarial do meu avô fez com que o homem com a fama de fazer as melhores escadas da cidade nunca ganhava dinheiro que chegava, que a insegurança do dia de amanhã nunca se ultrapassou e que nos tempos mais difíceis, depois da guerra, a família com cinco filhos passava fome. Com catorze anos, no fim do nono ano e acabada a escolaridade obrigatória, tiraram o meu pai da escola, para contribuir com trabalho para o orçamento familiar. E a uma comissão de professores do liceu do meu pai, que veio a casa para oferecer uma bolsa para que o melhor aluno da turma possa continuar a estudar, a minha avó respondeu que não aceitava esmolas, e que tinha educado os seus filhos não para ser líderes, mas bons subordinados. |
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