$BlogRSDUrl$>
30.11.05
Claro que o k-sssss é reles, nojento, convite clandestino e cobarde. Nunca k-ssssei nenhuma rapariga. Mas já mandei assobios e convites dum lado da rua para outro. Acabado de sair do liceu, trabalhei por uns meses nas obras. Era normal procurar um emprego para fazer algum dinheiro, - não para viver, pois ainda viviamos em casa dos pais, mas para a aparelhagem, umas férias, ou para a mota – e para ocupar os meses antes do começo do serviço militar ou civil, ou da faculdade. Trabalhar nas obras era o mais respeitado: aqui ganhava-se mais, mas também era o mais duro. Condizia com o que achei exigível ao meu estatuto entre os amigos, nestes tempos, tê-lo conseguido, e é verdade que ainda hoje não queria prescindir dessa experiência, embora ou porque durante as primeiras semanas chegava à casa literalmente de rastos, sem mais força do que para um banho e para cair na cama; e embora ou porque tinha de enfrentar os preconceitos e a suave hostilidade dos operários de vida inteira, que só estavam à espera de que o menino fino martelava o dedo, entornava o carrinho de mão ou fraquejava ao empilhar os tijolos. Mas depois de ter sido inúmeras vezes o moço de recados para os serviços mais baixos como limpezas ou buscar a cerveja; depois de ter sido vítima de gozos de velha tradição, como ser mandado buscar os “pesos da balança de água”; depois de ter arranjado coragem para mandar a merda um colega superior na hierarquia (estavam todos), e recusar outra exigência de serviço cujo único fim foi evidenciar o meu lugar hierárquico, ganhei o respeito deles e tomei mesmo gosto no que fazia. Também já não caia na cama no fim do trabalho, restava-me força entretanto para ir ao pub, beber copos e exibir a massa muscular recem-adquirida. Comparado com muitos outros trabalhos físicos, trabalhar nas obras é um privilégio, não só porque se faz uma coisa que se vê crescer, mas também porque não se trabalha num espaço fechado, mas literalmente na rua, no espaço público. Enquanto se continua na rotina de esforço, o mundo está lá a nossa volta, lembrança aliciante da vida bela e livre. É assim. Uma pessoa já passou a manhã inteira no andaime, suada e cheia de pó, quando de repente, lá no passeio do outro lado da rua caminha uma rapariga bem feita ou talvez nem tanto, em mini-saia, ou talvez não, já não o quero jurar. Ah que deleite! Um rasgo de sol ilumina o estaleiro por um momento maravilhoso, toda a gente pára, deixa cair o que tem na mão, e chovem os piropos, assobios e convites sobre a rapariga, que, como quem não ouviu nada, continua majestosamente o seu percurso, sem virar a cabeça. Quinze segundos depois, cada um está de volta a fazer o que fez, comentando o que teria feito com a rapariga, se não tivesse, merda, neste momento de trabalhar... |
|
||||
|
|||||