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  • 28.9.05
    Credibilidade

    No auge da contestação contra as centrais nucleares na Alemanha, no início dos anos 80, todos os meus amigos estavam empenhados no combate, convencidos do caracter profundamente maléfico desta tecnologia.
    Como os psicólogos explicariam com facilidade, senti bastante pressão para alinhar com eles, e até certo grau de facto alinhei, pelo menos a chegar a votar nos Verdes. Mas nunca consegui alcançar o nível de convicção nesta causa que me teria permitido um empenho realmente enérgico. Porquê? Por uma razão muito simples: Nunca cheguei a a adquirir competência científica suficiente sobre o assunto para poder formar uma opinião que cumprisse os requisitos mínimos de solidéz, que exigiria a qualquer um quem me quisesse convencer duma posição de quer que seja.
    Claro que este problema, que não é só meu e que não se restringe a questão do nuclear, não justifica demitir-me da tomada de posição enquanto cidadão, e por isso faço as minhas escolhas, pelo menos como eleitor.

    Se não percebo nada da ciência nuclear, eu sei, por experiência própria, como é forte a influência do interesse próprio e do ambiente social na formação de opiniões, também dos que são supostamente científicas.
    Esta influência obviamente não muda os factos do assunto em apreciação, o que quer dizer que até posso ter razão com a minha avaliação, mesmo quando ela for influenciada pelo meu "wishful thinking" e pelos meus preconceitos.
    Mas não há dúvida que se estivesse livre de "wishful thinking" seguramente acertaria mais vezes.

    Para as exposições de João Miranda sobre o aquecimento global isto significa: Que muito lhe custe, ao clima não pode aplicar as suas teorias liberais. E se em vez disto escolhe no leque de dados e posições científicas sobre o assunto aqueles que não recomendam linhas de acção política contrárias às suas teorias liberais – que, lembro, são políticas e económicas -, carece duplamente de credibilidade: Primeiro pela ausência da competência científica no assunto e segundo pela desonestidade intelectual, que se manifesta não tanto na escolha selectiva de dados e posições (até certo ponto inevitável), mas na enorme ostentação da sua "verdade" em face da sua fundamentação débil.

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