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11.9.05
"Tinha decidido fazer um discurso na ocasião da exposição, porém num fato de mergulho, para representar o sub-consciente. Metiam-me então na minha armadura e até me calçavam botas com solas de chumbo, que me tornavam impossível mexer as minhas pernas. Tinham de carregar-me para o pódio. Então colocavam-me o capacete e aparafusavam-no. Atrás do vidro do meu capacete, comecei com o meu discurso, a frente dum microfone, que obviamente não era capaz de registar nada. A minha mímica, porém, fascinava o público. Mas cedo lutava, de boca aberta, por ar, a minha cara ficou vermelha, depois azul. Aparentemente esqueceram-se de ligar-me a um sistema de fornecimento de ar e eu estava a sufocar. O especialista, que me tinha fornecido o equipamento, tinha desaparecido. Com gestos dei a entender aos meus amigos que a minha situação ficava precária. Um foi buscar uma tesoura e tentava em vão furar o fato, um outro quis desaparafusar a capacete. Como não sucedeu, começou a bater com um martelo nos parafusos... Dois homens tentavam de arrancar-me a capacete, um terceiro continuava a bater no metal, assim que quase perdi a consciência. No pódio já so havia uma luta confusa e feroz, da qual emergi de vez em quando como um boneco com membros deslocados, e o meu capacete de cobre soava com um tantã. E então o público aplaudiu a este bem sucedido mimodrama daliano, que nos seus olhos sem dúvida representava, como o consciente tenta de apoderar-se do sub-conciente. Mas a mim este trinfo quase matou. Quando finalmente me arrancavam o capacete, estava tão branco como Jesus depois do jejum dos quarenta dias." (Salvador Dalí, na sua autobiografia Comment on devient Dalí) |
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