<$BlogRSDUrl$>




  • 23.9.05
    Anti-germanismo

    Há dias, o JMF levantou, simpaticamente e com pertinência, a questão se muitos comentários sobre o resultado eleitoral na Alemanha não deviam ser considerados anti-germânicos, segundo o critério muito em uso para classificar anti-americanismo.

    Para melhor abordar esta questão sugiro a leitura dum exemplo concreto: No Contra a Corrente encontrei o artigo que até hoje me parece o candidato mais forte de ser classificado como anti-germânico. O seu autor (britânico) refere a notícia recente dum francês, que guardou o cadaver da sua mãe durante cinco anos em casa, ao fim de continuar a receber a sua reforma. Com destaque pelo cheiro que este homem se dispôs a aturar para isso. Na sua analogia, o homem é o eleitorado alemão, o cadaver o estado social e a reforma as garantias sociais.

    Claro que esta analogia tem alguma fraqueza, mesmo olhando-a só do ponto de vista lógico. Afinal, na Alemanha ainda é o próprio "cadaver", que sustenta o filho, e o filho aquele que lhe dá os recursos... Mas enfim, admito que, para o autor, a fraqueza lógica está altamente compensada pela força da imagem.

    Será este artigo anti-germânico? Eu acho: Não necessariamente. Não quero excluir que o autor também nutre um ressentimento contra nós alemães, independente do nosso sentido do voto, mas tenho de admitir: Não sei. O que ele demonstra, é uma forte irritação, ou usaremos o termo que os críticos do anti-americanismo preferem em seu lugar: ódio contra os eleitores que recusam desmontar o modelo social alemão federal construido no consenso e na solidariedade. Mas a sua irritação talvez não seria menor se estes eleitores fossem suecos ou franceses.

    Dito isto, reafirmo a minha profunda irritação com os eleitores, que elegeram um homem intelectual e culturalmente limitado, que conjuga com insuperável hipocrisia as suas fortes convicções religiosas com um enorme a-vontade no abandono dos mais fracos e com a complacência com o aproveitamento, pelos seus amigos e apoiantes próximos, das oportunidades de negócio que a sua posição lhes faculta. Para além dos estragos catastróficos que a sua politica internacional, baseada em ignorância, levianidade e arrogância, fez e ainda faz.
    É verdade que penso, quem elegeu este homem como seu presidente provavelmente partilha pelo menos alguns (os primeiros) dos seus defeitos e - em momentos menos generosos - penso até que ele não merece melhor... Eis o meu anti-americanismo.

    Aliás, embora consciente, como imigrante aqui, da conveniência dalguma contenção, arrisco confessar que certos pensamentos e sentimentos, que me assaltaram quando assisti ao regresso triunfal da autarca de Felgueiras, podiam, segundo o referido critério, qualificar como anti-portuguesismo.

    This page is powered by Blogger. Isn't yours?

    Creative Commons License