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20.8.05
Estive a mostrar aos meus rapazes a sua cidade natal, que deixaram há onze anos, com quatro resp. um ano de idade. A primeira casa no Schleusenufer, a segunda em Steglitz, a loja em Neukölln, que era o infantário do mais velho, o "Kinderladen" gerido em cooperativa pelos pais; o Hospital dos Adventistas do Sétimo Dia, onde nasceu o Felix, no Grunewald. Um sábado soalheiro em Agosto, não só o Tiergarten, todos os jardins, como aqui o Schlesischer Busch, estão cheios de gente, a fazer pique-nique, como as famílias turcas: patriarcas barbudos com ar severo, as crianças pequenas, filhos ou netos, divertidos e despreocupados, as filhas adolecentes e a mulher menos, vestidas com lenço, trajes compridos e peúgas de senhora em sandálias, estão a tratar do pequeno churrasco portátil; enquanto dez metros além, em contraste, despreguiça uma estudante apetitosa em bikini minúsculo, ao ler o Spiegel; também há um casal de punks vestidos de preto, a rapariga com collants devidamente rasgadas em botas de paraquedista; e um hippie já velhote de barba branca e cara de quem se sabe boa pessoa, cruza, em calças largas de linho roxo, o jardim em diagonal, debaixo das castanheiras portentosas. Não mudou muito, aparentemente, na fauna berlinense. Mas uma novidade para mim são os dois rapazes, não os rapazes, mas como se renderam ao progresso tecnológico: puxam uma carrinha de mão com bateria de automóvel e aparelhagem de karaoke, do genero que se vê nos músicos do metro de Lisboa, mas aqui eles cantam "Hare Hare Krishna, Hare Rama..." Esta viagem autobiográfica-arqueológica: Os meus filhos grandes estão a adorá-la, embora não reconhecem quase nada - vejo os nomes nas portas, mas com excepção do senhorio em Steglitz já não encontro nenhum conhecido. Para dizer a verdade, isto deixa-me aliviado, a mim, esta viagem no passado não causa sentimentos inteiramente agradáveis, demasiado forte é a nostalgia, a sensação do passamento do tempo, e assim, como o mais pequeno, que tem cinco e nasceu em Lisboa, necessita que a intercalámos com estadias em parques infantis, para descomprimir, aproveito para ver umas obras que desenhei há quinze anos. Reparo com satisfacção e orgulho que os prédios não ficaram datadas, que resisti então aos tíques da época. Isto é que me deixa feliz: Ver as pessoas viver neles com naturalidade, num ambiente discreto e quasi-evidente, o primeiro mundo das crianças que aqui brincam, para elas e para os seus pais não só um espaço útil, mas também "Heimat", e quando vejo o velho na varanda: quantas vezes apoiou as suas mãos naquela guarda, desde que deixei Berlim, e quando entra pela porta da cozinha: quantas vezes dobrou aquela esquina entre sala e a casa de jantar, quantas vezes abriu esta porta, que eu desenhei? |
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