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  • 10.7.05

    Também gostei da serenidade (peço desculpa pelo uso da palavra gasta) dos Londrinos, dos cidadãos, das autoridades e até da comunicação social (alguma).

    O exemplo dos Londrinos é importante para nós, que poderemos um dia estar numa situação semelhante; mas é também importante para aqueles que são o grupo alvo da propaganda dos terroristas: as populações islámicas com ressentimentos contra o estilo de vida ocidental.
    Porque, como se sabe, a guerra terrorista é uma guerra de propaganda. (Tony Blair lembrou bem no seu comunicado que o objectivo do terror é terrorizar). Como não pode haver nenhum objectivo militar a curto ou médio prazo para os terroristas, são os objectivos políticos, que temos de contrariar.

    O primeiro objectivo dos terroristas é obrigar os governos ocidentais, através da terrorização das suas populações, de aceitá-los, os terroristas, como adversários a sua altura.
    Este objectivo foi, pelo menos desde o 11. Setembro, largamente alcançado.
    Não os 3000 mortos foram a grande vitória de Bin Laden e alliados neste dia, mas o reconhecimento público duma simetria: Num lado os governos da civilização ocidental, noutro Bin Laden e a (sua visão da) civilização islámica.
    É escusado apresentar contra essa simetria o argumento moral, de que há num lado vítimas civis e inocentes, noutro assassinos; nem da legitimidade democrática dos governos ocidentais; nem da assimetria objectiva em termos económicos, políticos e militares: de que num lado se encontra uma civilização livre com estruturas incomparavelmente mais sofisticados, noutro um modelo civilizacional mediéval, apesar de os terroristas se aproveitam dos meios que só uma sociedade como esta que querem destruir pode facultar.

    Na lógica da propaganda isso conta pouco, como se vê no apoio moral e na admiração de que a Al Quaeda goza em largos estratos das populações árabes.
    Esta admiração foi o segundo objectivo e é a segunda vitória da Al Quaeda. E essa é quanto maior quanto mais a noção de que se trata duma guerra das civilizaçãoes se enraíza nas cabeças de ambos os lados.

    A terceira vitória a Al Quaeda alcancaria se os estados ocidentais começassem efectivamente a descaracterizar o seu modelo civilizaçional, sacrificando partes elementares dos seus valores fundamentais: liberdade, pluralismo, tolerância. Isto ainda não aconteceu, excepto dalguns passos menores nesta direcção.

    E é em relação a esse terceiro objectivo, que a reacção aos atentados de Londres me inspirou esperança, porque nisto contraria claramente as expectativas dos terroristas.
    O termo pode ser errado, mas a comparação da reacção das sociedades ocidentais, tanto em geral como a das populações atingidas, mostra que começámos a habituar-nos ao terrorismo. Claro que não nos conformámos, mas aceitámos a realidade de que esses ataques são aparentemente inevitáveis, mesmo quando se faz todo o esforço para os prevenir e de estar preparado quando acontecem. (E que os británicos fizeram tão boa figura neste segundo aspecto, foi decisivo para a vitória moral, que está claramente no lado dos agredidos.)
    Já não reagimos com pánico, nem histeria, nem perdemos a noção da propocionalidade.
    Para os 700 vítimas não faz diferença que o ataque não atingiu 7000, mas à cidade de Londres, a todos nós, os visados em geral, faz.

    Naturalmente, a grande mensagem de ameaça, que o atentado de Londres, como os outros, nos traz, é a de que amanhã pode haver um atentado muito pior: com gás, bactérias, ou atómico. E essa ameaça é de levar a sério. O que obriga a um esforço em vários planos, de contrariar a proliferação das tecnologias correspondentes. E é essa a razão porque não posso continuar tão descansado, como entro no avião no dia seguinte a uma notícia dum desastre aeronáutico.

    Mas mesmo a ameaça terrível dum ataque não-convencional é, para o meu dia-a-dia, uma ameaça estatística, que não muda o meu estado de espírito, a confiança com que continuo na minha vida, numa sociedade plural, liberal e tolerante.
    E assim o deve ser.

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