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  • 18.7.05
    "A perda da virgindade"

    Um artigo de Pilar Rahola sobre a nossa postura perante o terrorismo, na Rua da Judiaria.
    Lendo o no contexto do debate sobre a "compreensão" dos atentados da Al Qaeda (na qual me envolvi com alguns posts recentes) faz-se me alguma luz sobre a confusão das frentes que existem, entre nós, os ameaçados.
    Há entre os motivos para atacar a "compreensão" do Terrorismo não só o medo instintivo que leva a entrincheirar-se sem querer mais pensar, há também o repúdio duma postura cínica do low profile, para qual a França é tida, com alguma justiça, como representante máximo; mas há também e antes de mais o repúdio duma interpretação marxista, que não consegue conceber ameaças de dimensão histórica e mundial, que o terrorismo da Al Qaeda indubitavelmente é, a não ser como expressão dalguma forma de luta de classes.
    Acredito que essa última interpretação ainda têm bastantes adeptos, e concordo com os seus críticos que, se seguimos a ela, estamos realmente a cavar a nossa própria cova. Claro que não está errado de falar em pobreza, de forma literal quando pensamos num bombista proveniente dum campo de refugiados palestiniano, e de forma mais metafórica mas igualmente real, quando pensamos no que leva um pai de familia e professor da classe média inglesa a fazer-se explodir no metro junto com tantos inocentes.
    Neste caso, não é pobreza material. Mas não acredito que seja uma locura a priori inexplicável ou desnecessária de explicar. Pelo menos isto não está já decidido, antes de saber mais sobre os assassinos, e assim interessa-me perceber se essa locura é a que sempre houve e há (nalguns humanos), e só encontra actualmente, com a estrutura da Al Qaeda, meios de fazer mais estragos, ou se ela é a tradução de algum fenomeno político e social que importa perceber. (A suposta guerra das civilizações ou, por exemplo, uma forma de "doença" ou crise no processo da globalização.) Enquanto não me acomodar com a hipotese de se tratar da simples e eterna locura, não posso limitar-me ao combate militar e policial.
    Pois é claro que a Al Qaeda é algo diferente do que a loucura dos quatro assassinos de Londres. Não é só uma estrutura logística, com apoios significativos, financeiros e políticos, como Pilar Rahola frisa, mas uma ideologia que já provou ser capaz de se subordinar e instrumentalizar a locura dos seus agentes.
    Quero perceber e combater, para além da sua estrutura logística e os seus apoios políticos e económicos, a ideologia da Al-Qaeda: como ela consegue propagar-se, e porque ela é tão fértil em encontrar adeptos dispostos a matar e morrer para ela. Não é qualquer uma organização, que consegue recrutar um tal número de seguidores dispostos a tudo.
    O sucesso da Al-Qaeda é também, queiramos quer não, um fenómeno social e religioso.

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