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  • 1.3.05
    Quem não está de parabéns, é o Barnabé

    Uma vergonha, este post. Mas vale a pena reflectir um pouco sobre a indignação que o motivou e também aquela que ele suscitou.

    O Nuno Sousa indigna-se com a exibição - talvez diria também instrumentalização - do sofrimento e do morrer do Papa.
    Relativamente à exibição, não vejo nenhuma razão para a sua queixa. Não precisa de assistir ao espectáculo, se não quiser. E relativamente a instrumentalização, ainda menos. Se é verdade que o Papa está a fazer com isso his point, devemos lembrar que está a fazê-lo com toda a legitimidade e em coerência total com aquilo que pregou e representou toda a sua vida. Daí, a última coisa de que pode ser acusado neste caso, é hipocrisia.

    Curiosa é a repetida invocação da dignidade por Nuno Sousa, para legitimar o seu escandalo com o espectáculo público do sofrimento e da morte. É difícil perceber o que a reclamada ocultação piedosa de factos menos agradáveis da vida aos que ainda têm uns anos para ignorá-los, têm de digno. Aqui é que aplica o termo hipócrito.

    Mas no outro lado intriga-me, porque é que nós ofendemo-nos tanto com uma piada de mau gosto, não sendo nós os visados e, no que diz respeito a quem é, ficando mais do que óbvio que este está muito para além de poder ser incomodado com ela.
    Não consigo descartar sem rodeios a ideia de que a essa indignação não é completamente alheio o facto de quem é retratado a gatinhar não é só um velho qualquer, mas o Papa. E aqui permito-me apelar ao bom senso e a capacidade de encaixe de quem se ofende com isso. Essa representação do Papa (gatinhando) deve aceitar-se pelas mesmas razões pelas quais se refuta a crítica à exibição do seu sofrimento. Ela é verosímil, sim, mas não diminui a sua dignidade. Num sentido não muito metafórico, ela é verdade.
    Exactamente a verdade que o Papa quer transmitir: Ecce Homo!

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