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  • 17.3.05
    Playmates do inferno

    O quadro de playmates, que postei anteontem, continua a incomodar-me. Embora que o meu critério para as minhas escolhas é bastante lato, encontro inevitávelmente, na procura das candidatas, os límites do meu pudor, ou do quer que seja mais que me orienta sobre algo ser aceitável para postá-lo no Quase em Português. Não se trata, neste caso, dos límites da pornografia - também as tenho, mas não são estes alcançados neste quadro; - trata-se de outra coisa.

    Vou já dizê-lo: O problema é que se trata de bruxas. Quando vasculhei a obra disponível na net do pintor alemão Hans Baldung Grien (1484-1545), percebi rapidamente que tinha encontrado não só um eroto-maníaco, como um homem obsecado com a bruxaria. Há dezenas e dezenas de pinturas e desenhos, que representam bruxas no exercício da sua arte, e de uma forma tão explícita que efectivamente já não teriam cabimento no Quase em Português. Desenhos que se integrariam perfeitamente na pornografia hardcore e até bizarre dos nossos dias.
    Recordo que no ambiente histórico e mental, em que Hans Baldung Grien viveu e pintou, os seus motivos foram, ao contrário de hoje, em que se vende e consome a pornografia como divertimento, brincadeira nenhuma. Bruxaria era genuinamente temida, e estava na ordem do dia que verdadeiras mulheres foram torturadas - e estranguladas, afogadas ou queimadas publicamente depois de finalmente ter confessado o concubinato com o Diabo.
    É um equívoco achar que o ambiente sinistro, o céu amerelado, o fumo vermelho e o bode são atributos acrescentados para apicantar a situação - ou como pretexto hipócrito (frequente no século XIX) para poder pintar duas gajas sexy. O que vemos, é o pecado vil, as portas do inferno, e o deleite que tenho enquanto os meus olhos percorrem as costas da mulher, o encanto que sinto quando eles finalmente se encontram com o seu olhar sedutor, devia misturar-se com o sentimento de culpa e com o genuino temor do castigo indizível que me espera.

    Daí, só uma intêncional e frívola ignorância desta mensagem do quadro permitiu-me postá-lo aqui na rúbrica de playmates.

    P.S.:
    É bom lembrar que a moral sexual deste quadro e a moral de João César das Neves, que comentei aqui, bebem da mesma fonte.

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