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  • 11.3.05
    Post no Viva Espanha, 10.03.05:

    Programa informático avalia se uma canção pode ou não transformar-se num êxito
    Próximas novidades:
    programa informático avalia se vale a pena ler um livro
    programa informático avalia se vale a pena visitar museus
    programa informático avalia se vale a pena ver um filme

    At 5:43 PM, Lutz said...
    Fase seguinte:
    programa informático escreve os livros
    programa informático cria as obras de arte
    programa informático realiza os filmes
    Fase final: Matrix

    From: Miguel Silva
    Sent: quinta-feira, 10 de Março de 2005 18:11
    To: bruckelmann@bau.pt
    Subject: Uma pergunta

    Estava aqui a tentar publicar uma resposta ao comentário, mas o blogger hoje está impossível. Por mail vai mais depressa.
    Quase que arrisco dizer que alguém, algures, deve andar a trabalhar nesses softwares. A Matrix já esteve mais longe .
    Aproveito para fazer duas perguntas (é mais uma pergunta desdobrada em duas):
    Se as obras de arte forem criadas por computadores, isso deve alterar a forma como as apreciamos?
    Se um computador, autonomamente, criar uma pintura (ou um livro, ou um filme...), podemos considerá-la ainda uma obra de arte?

    Um abraço
    Miguel

    Lutz:
    Depende, como é óbvio, de que entendemos como arte.
    Aquilo que o programa consegue analisar na canção da Norah Jordan, é um conjunto de padrões aos quais o homem/mulher (“ser humano” quero dizer) responde com agrado. No fundo uma forma sofisticada de exploração de reflexos - pavlovianos e outros. Quem como os behavioristas pensa que a mente do homem, o homem mesmo, se resume a isso, deve achar que só é uma questão de tempo até que lá chegamos.

    Agora eu acredito que a arte é algo mais do que só coçar as costas, do que facultar uma sensação agradável. Penso que arte é uma forma de comunicação de homem para homem sobre - em última instância - o homem.
    E assim acho que a resposta a tua segunda pergunte é não. (E sendo ela não, a primeira não pode ser colocada nos seus termos rigorosos.)
    Mas tenho uma ressalva: A resposta negativa deixa de fazer sentido quando chegamos – se chegamos – à verdadeira inteligência artificial, como definida no famoso Teste de Turing. Provavelmente já o conheces, mas aproveito o facto de que nós os dois estamos neste momento a cumprir os requisitos da situação laboratiorial do teste, para devolver-te nela a pergunta:

    Nunca nos encontrámos no mundo físico, nem tens prova da minha existência a partir de terceiros. Tens a certeza, Miguel, que eu sou um humano e não só um programa de computador sofisticado? Se não tivesses a certeza, porque p.ex. estarmos no ano 2050 e a inteligência artificial ser vulgar, - em que medida essa dúvida mudaria a tua recepção do que escrevo no Quase em Português? Pressupondo, pelo bem do argumento, que alguns dos meus posts fossem arte, mereciam eles agora uma recepção diferente?

    Um abraço,
    Lutz

    Miguel:
    Este mail é mais desafiante para uma resposta do que as capacidade que eu detenho a esta hora da noite. Vou dormir sobre o assunto (um velho e sábio conselho do meu avô) e retomar a coisa amanhã. Gosto especialmente da perspectiva comunicacional da arte. Sobretudo porque tem muitas vertentes que podem ser analisadas (a arte como forma de expressão do autor; o seu carácter simbólico; a percepção do observador, etc.)

    Acho que a intervenção do ser humano é essencial para definir algo como arte. Mais claramente, tem que existir um sentido atribuído, o que não é passível de ser feito por uma máquina. Ou seja, se alguém programar uma máquina para desenhar determinados padrões numa tela, com o intuito de elaborar uma obra de arte, dificilmente lhe podemos negar esse estatuto. O mais que se pode dizer é que saiu uma bela porcaria...

    O resto deixo para amanhã, mas ainda deixo o que me ocorreu quando fui ver o primeiro filme Matrix ao cinema: e se é esta a nossa realidade e o filme não passa de uma ironia desenvolvida pela Máquina para gozar connosco?

    Mas também aqui há muito para dizer.

    Um abraço
    Miguel

    (continua...)

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