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  • 15.3.05
    Esquerdista egoista, neo-liberal moralista, atéu solidário

    Vem aí a minha resposta ao Timshel, que se queixa de que nunca ninguém lhe conseguiu refutar a sua demonstração de que um esquerdista tem de ser necessáriamente cristão e um neo-liberal necessáriamente atéu.

    O esquerdista egoista:

    Posso ser de esquerda - aceitando aqui a definição do Timshel: lutar contra a desigualdade - sem intenções moralistas, por achar que essa luta é necessária para garantir a paz social. E posso estar interessado na paz social por motivos puramente egoistas: Por recear de acabar como vítima duma guerra de classes. Ou por estar no lado dos desavantajados ou temer de acabar por lá estar, por exemplo.

    O neo-liberal moralista:

    Por outro lado, posso ser neo-liberal, isto é promover políticas que defendem a propriedade e o empenho egoista, e que combatem a redistribuição estatal dos bens, por achar que – no cómputo geral – todos ganham com isso. Por achar que a redistribuição dos bens reduz a motivação das pessas de produzí-las e que isso acabaria por prejudicar todos, incluindo os desavantajados. Essa justificação corrente não me parece atacável do ponto de vista moral. O ataque a esta justificação é sempre um processo de intenções: Não se acredita que essa análise será mesmo a genuina razão da defesa desta política! Mas este ataque é obviamente ilegítimo. (Só podia fazé-lo em cada caso concreto.) O que só pode contar no debate, é a avaliação das teorias económicas e políticas.

    O ateu solidário:

    Também não vejo de forma alguma demonstrado que quem tem uma postura moral coincidente com a que Cristo defende/representa na Bíblia, tem de ser – em coerência - cristão, ou até ser crente de alguma religião. Do ponto de vista lógico - e não histórico, onde naturalmente não consigo dissociar a orígem dos meus valores da cultura cristã em que cresci - posso chegar a defender exactamente a moral de Cristo, sem jamais ter ouvido falar dele e até sem recurso a um outro ser superior qualquer. Basta descobrir a minha semelhança com os outros homens e descobrir que nada distingue o meu desejo de felicidade do desejo deles. Posso ainda descobrir que me sentiria mais feliz se fosse rodeado de outras pessoas também felizes. E descobrir o prazer em partilhar e ver a felicidade na cara do outro. Posso ainda concluir logicamente que todos viveriam muito melhor, e eu em primeiro lugar, se todos se comportassem de acordo com a minha moral, coincidente com a do Cristo, más de quem, lembro, nunca ouvi falar.
    Deus para ter moral? Não é preciso!

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