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24.3.05
É com alguma pena que substituo (no player) a Allemande da Sonata II pelo Erbarme dich! As Sonatas e Partitas para Violine Solo são, como algumas outras obras de Bach - as Suites para Violoncello, a Arte da Fuga e o Clavier bem-temperado - testemunhos reconfortantes da possível, da subjacente ordem do mundo. No fundo, no fundo, tudo está bem. (Se não está bem hoje, aqui, não quer dizer qua a boa ordem não existe. Com boa vontade, voltaremos lá: O sonho platónico.) Mas isto só é metade de Bach. A Paixão de S.Mateus é a outra. É a montanha russa dos bons e maus sentimentos, da lealdade e da traição, das boas intenções e da cobardia, do medo e da culpa; e da esperança. Não sei como é para quem não entende o texto ao ouvir a Paixão de S. Mateus - para mim é impossível distinguir o que se déve à música e o que ao texto -, mas a parte que me infalivelmente põe as lágrimas nos olhos, é quando Pedro se se apercebe das suas negações. Dos límites da sua boa vontade, que tinha julgado ser enorme. E do caracter fatal da culpa. Não consigo resistir a identificar-me com ele. Se ouvo com arrepio o mob que grita "kreuziget ihn!" ("crucificam-no!"), tenho ainda a distância do desprezo. Mas o Pedro sou eu, neste momento. Só me resta fazer como ele, sair e chorar amargamente, e pedir "erbarme dich" ("tenha piedade"), não tendo melhor de apresentar como razão do que as minhas lágrimas. (Ian Bostridge (Evangelist), Franz-Josef Selig (Christus), Sibylla Rubens (Sopran), Andreas Scholl (Altus), Werner Güra (Tenor), Dietrich Henschel (Baß), Schola Cantorum Cantate Domino, Choeur et Orchestre du Collegium Vocale Gent, Philippe Herreweghe, 1999.) |
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