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14.1.05
Caro Rodrigo, perguntas: Não consigo entender se o mimo "fascista" com que me brindaste, é uma provocação de gosto duvidoso, um erro de avaliação doutrinária ou simplesmente deve-se a uma balbúrdia de ideias sobre o assunto? Não estava seguro se entendesses a minha alusão à moral fascista ao teu respeito como "mimo", ou seja como algo depreciativo. Porque acharia natural que um fascista não se envergonha de sê-lo. Deduzo então que não te vês como fascista. Constato isso como algo bom - no meu quadro de referências. Respondendo a tua pergunta: Nota que não me referi a ti como fascista, mas a uma moral fascista. Nem juntei a adenda ao meu post para brindar-te com um mimo, mas porque achei-lo injusto em relação aos conservadores, que ao contrário de ti acreditam na primazia da lei e na solução pacífica e civilizada de conflitos. A moral que deduzi do teu post em questão entendo como essencialmente fascista. A moral fascista tem outros aspectos, mas aqueles que vi nele já compõem um leque bastante central e conclusivo. O fascismo é uma ideologia que vê como valor máximo a afirmação e progressão dum colectivo (povo, nação, raça). Para ele, o colectivo progride da melhor forma, se se permite que os mais fortes dentro deste colectivo se impõem aos mais fracos, ora escravizando-os, ora eliminando-os, e assim asseguram o contínuo fortalescimento do colectivo. (Darwinismo social.) Ao mesmo tempo, porque o que interessa é o colectivo e não o indivíduo, esta imposição dos mais fortes tem que ser organizada, razão pelo que o fascismo valoriza tanto a hierarquia. É a estrutura que (no seu entender) de forma mais eficaz junta e alinha as forças dos elementos do colectivo. É claro que numa comunidade maior do que o teu recreio, como num estado, esta hierarquia, a estrutura do poder, tem que ser assegurada pela lei. Mas ao contrário do que é o caso num estado de direito - democrático ou não -, a lei não tem valor em si, ela está subordinada ao poder: Sempre que os detentores do poder entendem como conveniente, contornam ou vergam-na, o que está completamente de acordo com os valores basilares ideológicos. O fascista não respeita a lei, mas o poder. No teu post encontro os valores coincidentes com o acima descrito: A aceitação do darwinismo social, da afirmação do mais forte à custa do mais fraco. A preferência da própria submissão (adoçada com a expectativa de mais tarde poder também oprimir) à resistência ao poder mesmo que este seja injusto e não de acordo com as regras vigentes. O próprio desprezo pela regras, pela lei, em detrimento do poder. E ainda, o que corresponde ao caracter totalitário do fascimo, a hostilidade e o desprezo pelos que se recusam a participar no jogo canil, que escolhem caminhar de forma erecta fora da matilha. Lutz Adenda (16.01.05): Depois de ler a sua resposta não me restam dúvidas que o Rodrigo Moita de Deus não é fascista. Mantenho que o seu post, que originou esta disputa, contêm muitos elementos duma moral fascista, mas quem escreve "Todos queremos um mundo melhor, pão para todos, o fim das guerras, da pobreza e o resto", não é fascista. Porque ao contrário do que o RMD diz, um fascista não quer isso: páo para todos - e nomeadamente não quer a paz. O famoso grito "Viva la muerte!" do general falangista não foi um deslize, mas uma expressão coerente com a essência da ideologia: Que morra que não consegue (sobre)viver! Que se fortaleça e purifique assim o colectivo! Não é por acaso que o fascismo se dá tão bem com a instituição militar: porque a lógica militar é exactamente aquela que subordina a vida do soldado - do indivíduo - ao interesse do colectivo. E foi o Carl Schmitt, o ideólogo mais brilhante do fascismo, que explicou que a guerra é o estado natural da humanidade - e bem! - e os tempos de paz só são tréguas para recuperar forças para poder continuar a luta enterna pela supremacia. Há algo de que nunca duvidei - e que por isso valida essa minha conclusão que o RMD não é fascista: a sinceridade com que ele escreve. |
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