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  • 16.1.05
    Fascismo não é Comunismo não é Liberalismo

    Num comentário ao post "Não é mimo" sobre a moral fascista o Lourenço escreve: E resulta também se se mudar "fascismo" para "comunismo", e "fascista" para "comunista".

    Isto é uma ideia bastante generalizada entre pessoas que se sentem repugnados tanto pelo primeiro como pelo segundo, perante o sofrimento de dimensão inédita que ambas as ideologias têm causado no século XX. Mas essa afirmação não é correcta. Embora tendo muitas semelhanças tanto nos seus métodos como nos seus efeitos devastadores, elas são em termos doutrinárias bem distintas.

    O comunismo tem em comum com o fascismo ser uma ideologia colectivista, em que o interesse do indivíduo é sacrificado ao do colectivo, e como Popper explicou na Sociedade aberta, também o facto de se verem como executantes duma vontade da própria história, na sequência de Hegel. Mas há uma diferença substancial. O comunismo é uma ideologia salvífica que acredita que todos os sacrifícios acabam por levar a humanidade à uma espécie de paraíso em terra - a sociedade sem classes - em que todos serão "ajudantes uns dos outros" e viverão em harmonia. Daí o comunismo reclama ser uma ideologia humanista, que quer como fim último o bem do homem, de cada homem.
    O fascismo não: Não quer o bem de cada homem, nem hoje nem num futuro longinquo. Quer o bem do colectivo. Através duma luta pela afirmação dos fortes, que sabe e quer eterna.

    O Timshel, que chama num comentário ao mesmo post atenção à esta diferença, entende no entanto por sua vez, que se pode equiparar o fascismo ao neoliberalismo.

    Mas também discordo dele. Não arriscando, por falta de conhecimento melhor da doutrina neoliberal, uma sintese dela, realço porém uma diferença essencial: Se o neo-liberalismo é uma forma de liberalismo, como creio, ele é uma ideologia individualista, que nunca justificaria o sacrifício do individo a um interesse colectivo. Tem em comum com o fascismo a fé no darwinismo social, ou pelo menos, a convicção e a aprovação de que o egoismo humano é e continuará sempre a ser o móbil mais forte do homem. Mas ao contrário do fascismo, valoriza muito a liberdade. O liberalismo radical (termo que prefiro aqui ao de neo-liberal) defende, como é sabido, a redução de regras a um mínimo indispensável para assegurar que a livre perseguição dos interesses pelos individuos não descamba num caos, numa luta selvática que destruiria a civilização.
    O que não sei é se ele defende, em todo o caso, a primazia da lei.

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