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  • 24.11.04
    Tabú e preconceito 2 ("proibição de pensamento")

    No Terra da Alegria de hoje o Timshel comenta o meu post “tabú e preconceito”, que aqui escrevi anteontem.
    Nele afirmei - algo inconsequente - depois de ter demonstrado a necessidade histórica do tabú que suprime raciocínios que possam servir como reforço de preconceitos antisemitas, que mesmo assim não quero conformar-me com o tabú.

    No argumento central do post do Timshel na Terra da Alegria, que passo a citar, realço uma frase que condensa a questão do tabu e com a qual discordo:

    "[...]não tenho dúvidas que deve ser exactamente como um tabú que deve ser tratada a resposta a essa questão que traduza uma abordagem racista. É legítimo colocar a pergunta mas é moralmente ilegítimo dar determinadas respostas.
    Porque a razão aqui não é suficiente.
    Um tabú é uma barreira moral. O facto de ser uma barreira moral não deve impedir a sua discussão; bem pelo contrário (penso aliás que a parte final do post do Lutz visa, pelo seu carácter algo provocatório, provocar precisamente esta discussão bastante útil).
    Mas a resposta a dar não se pode basear apenas na razão.[...]"

    O que Timshel aqui propõe, por razões morais, é o que em alemão chamamos "Denkverbot" ("proibição de pensamento").
    Da minha parte, acho proibições de pensamento, também por razões morais, altamente insalubre. Cercear o pensamento para excluir algumas respostas, aos quais ele podia eventualmente levar, à partida, é exactamente a carcterística do raciocínio ideológico - seja ele político ou religioso – que assegura antecipadamente o resultado, e que lhe retira, no meu entender, todo o crédito.
    O que aqui acontece é a mistura da razão com a moral. A razão não tem nem deve ter nada a ver com moral. A única moral que se aplica a razão é que ela cumpre as suas regras: a lógica.

    Parece-me que o Timshel, quando quer limitar o leque das respostas permitidas, está a temer conclusões que já incluam juizos de valor de cariz utilitarista, que efectivamente devem ser avaliados em termos morais. Mas essas conclusões já não pertencem a razão.
    Por exemplo: Nada devia impedir-me de fazer uma investigação estatística, e chegar a conclusão que certas categorias de pessoas (povos, raças, sexos) são mais aptos para determinadas tarefas do que outros, ou que tendem de cometer mais crimes. Não nego que este tipo de estudo pode servir de arma para racistas etc., e também não que é muito discutível a possibilidade de estabelecer categorias, sem que essas já sejam ideologicamente infectadas.
    Mas este problema pertence a outro plano. Como também aquele, quando começo, à partir do resultado da minha investigação, a estabelecer medidas direccionadas para estes grupos: Internamento preventivo do grupo potencialmente mais criminoso, exclusividade do acesso ao ensino superior ao grupo com maior incidência de inteligentes etc...
    Aqui estou naturalmente de acordo com o Timshel: A generalização é o que é imoral.

    A minha insistência na total liberdade do pensamento não deriva só duma postura de princípio - dum liberalismo radical neste domínio – mas também da minha convicção de que ela é a unica esperança de assegurar uma comunicabilidade supra- ou inter-ideológico. Porque atribuo o facto de que representantes de universos ideológicos diferentes simplesmente não se conseguem entender – mesmo se, o que por vezes acontece, mostram empenho e boa fé - exactamente a isto: aos campos de pensamento truncados por motivos ideológicos ("éticos", diria quem pensa dentro da ideologia...).

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