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  • 24.10.04
    Qual "Estado Social"?

    O AAA posta no Blasfémias stickers que no seu entender se "adaptam na perfeição ao estado 'social' em que vivemos".
    Um diz: "Work harder! Millions on welfare depend on you!"

    Realmente, eu sei o que é um "estado social". Há onze anos que saí dum, em que nasci e vivi 30 anos, para viver em Portugal. Tive tempo suficiente para perceber uma coisa: Portugal não foi, não é e não será (certamente não num futuro próximo) um "estado social".
    O AAA tem de explicar-me onde se escondem os "millions on welfare", que ele está a sustentar com o seu trabalho. Estará a falar das crianças que vendem pensos nos semáforos? Dos cegos que pedem esmola no Metro? Dos velhos que jogam cartas nos jardins públicos?

    Este slogan supostamente engraçado só encarna uma mentalidade egoista e mesquinha. Aplicado a Portugal mostra também outra coisa: Uma ignorância que brada aos ceus ou, em alternativa, uma hipocrisia ainda mais gritante.

    Considero-me um liberal. Acho que a economia portuguesa está gravemente doente, e que sofre - sim - de parasitismo.
    Mas não são os pobres, dependentes da (quase) inexistente "welfare", que sugam a energia do pais.
    São os que não pagam impostos, porque têm meios para fugir ao fisco, mas não só usufruam dos serviços públicos modestos que o país fornece como conseguem aproveitar-se de subsídios, incentivos e encomendas vantajosas que o estado distribui.
    Este parasitismo assegura que os serviços públicos, embora pesando muito no bolso do contribuinte honesto, continuam tão miseraveis.
    Tem as suas fontes num sistema que cria um desinteresse objectivo do funcionário para os resultados do seu trabalho, e na burocracia, que faz gastar tantos ordenados sem que a eles corresponde qualquer produtividade adequada.
    E na "cunha"-cracia, que para além dum fenómeno de raízes também culturais, resulta da extrema dependência de quase todos os sectores da economia de encomendas públicas, subsídios ou de simples licenças, que impossibilita que o mérito seja recompensado, em detrimento do contacto certo.
    Como um amigo uma vez me disse: Em Portugal é estúpido esforçar-se muito para fazer um bom trabalho, o que é central para o sucesso é o posicionamento!
    E toda a gente, depois de percebido isso e gasto o seu eventual idealismo, passa a vida então num xadrez de posicionamento, até finalmente ter encontrado o ou os esquemas que lhe asseguram a sua fatia do bolo, fatia pequena porque o bolo é pequeno.
    E este continuará pequeno porque para o seu aumento ninguém se interessa e ninguém faz nenhum.

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