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8.10.04
"Mas, se pretendemos classificar as pessoas pelo critério da cidadania, a classificação que sempre tive como fundamental é a que distingue os homens livres dos capachos. O grande mal português é que temos, verdadeiramente, poucos homens livres. Pouca gente, poucos cidadãos, que estejam dispostos a viver a sua vida, a construir o seu caminho, sem terem de prestar vassalagem a várias formas de poder. Os arquitectos não são livres, porque dependem dos interesses económicos do dono da obra. Os médicos não são livres, porque, regra geral, querem ser simultaneamente profissionais liberais e assalariados do Estado. Os advogados de sucesso não são livres, [...]" Não é por acaso que o Miguel Sousa Tavares começa o seu exemplo com a invocação das três clássicas profissões liberais, dos arquitectos, dos médicos, e dos advogados. Por alguma razão os profissionais liberais são o arquetipo do cidadão livre. Supostamente não dependendo dum patrão, mas sim da sua competência pessoal, encarregues de cuidar de bens essenciais da sociedade, da cidade, da saude, do direito, atribui-se a eles uma dedicação desinteressada a causa pública, recompensada nem tanto pecuniariamente como pelo respeito do resto da sociedade. E é verdade que escolhi a profissão de arquitecto, mais do que pelo desejo de me exprimir artisticamente, pela aparente possibilidade de ser um cidadão livre, e poder contribuir com o meu trabalho, segundo o meu critério, para a sociedade com aquilo que entendo correcto e posso defender como bom. Depois, não durou muito, descobri que não é tão simples. As colunas de MST são - no melhor sentido - edificantes. Fala aqui alguém que acredita. Acredita na coluna vertebral, na liberdade, na dignidade individual. Acredita na sociedade composta por cidadãos livres. Sinto-me bem quando o oiço e vejo defender esses valores, como se fossem a coisa mais óbvia no mundo. Como todos nós pudessemos sê-lo: livre. Confirma-me as verdades em que acreditei e quero continuar acreditar: A cidadania é um dever moral. Que dá sentido à nossa existência. No fundo - isso percebemos - só merece respeito quem assume esse dever. Sem liberdade, sem independência, não há dignidade. Gosto das colunas do MST, mas é um gosto algo ingénuo, não: hipócrito, porque sei o que não quero admitir: A elevação da cidadania de MST devia estar ao dispôr de todos, mas não está. Muitos optam por rastejar, muitos mais ainda por contornar situações em que são obrigados a isso, aceitando assim ficar sem papel ou com um papel marginal na cidadania. Só a um grupo muito restrito, é dispensado vender-se, por mérito próprio a alguns, a outros por nascença. Ser cidadão é o luxo duma elite restrita. A coluna vertebral era e ainda é um privilégio aristocrático. Faço um esforço para poder fazer parte dela. O sucesso não está garantido a partida, ao contrário do que o amor-próprio me quer sugerir. |
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