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17.9.04
Ontem vi na RTL alemã (via TV-Cabo) um documentário sobre os artistas mágicos Siegfried e Roy. Devo começar por dizer que Siegfried e Roy representam, em termos artísticos, o expoente máximo do que rejeito: Kitsch pomposo, um espectáculo que afoga tudo que a magia podia ter de poético, num mar de efeitos especiais; ou seja, uma estética para a qual Las Vegas se tornou parádigma. Mas eles são também protagonistas da realização do American Dream. Hà trinta e muitos anos, dois jóvens alemães, provenientes de famílias pobres e disfuncionais, encontram-se num paquete, onde ambos trabalham como hospedeiros. Sigfried tem, para além dos seus deveres de steward, um segundo emprego a bordo: faz espectáculos de magia para os viajantes. Roy, uns anos mais novo, que tem um invulgar dom para com animais, passa a assistir-lhe. Ficam parceiros. Apostam tudo na magia. Vivem on the road. Têm sucesso. Emigram para América. E chegaram ao topo: Contrato vitalício milionário com um dos melhores hoteis de Las Vegas, com os seus shows diários, cade vez maiores, esgotados meses em avanço, passam a ser uma instituição nesta cidade. No ano passado, Roy foi agredido por um dos seus tigres e ficou desde então, para além de com uma disfiguração facial, que a cirurgia plástica conseguiu remediar modestamente, lateralmente paralisado, de forma parecida como acontece a muitas pessoas vítimas dum AVC. O documentário de ontem, que era dum formato televisivo tipo Mundo-VIP, concentrava-se, para alem numa recapitulação da história da sua vida de sucesso, na luta dos dois contra a deficiência do Roy: Como já voltou a falar quase normalmente, e como ainda se esforça imenso e acredita que um dia pode voltar a andar. Uma história comovente sobre a coragem, a esperança, e sobre o amor. Pois isso é que me impressionou mais nesta história: o indisfarçável e indisfarçado amor entre os dois. A forma como os dois, com a maior naturalidade, assumem a desgraça que aconteceu ao Roy, como a desgraça dos dois, e a luta para recuperar as capacidades perdidas, com a mesma naturalidade como a luta comum do casal. Ambos devem estar próximos dos seus sessenta anos, e deram-me a indubitável ideia de serem um casal feliz, que já passou junto por muitos anos de vida, bons momentos, maus momentos, solidários, fiel, e que estão bem com o que fizeram e com o que são. Como era de esperar, nunca no programa alguém mencionou a sua homosexualidade - e se aqui falo dela, não o faço com mais provas do que a impressão que me facultou o próprio programa. De facto, a sua homossexualidade também não era nem tinha que ser assunto neste documentário, sendo uma coisa somente absolutamente evidente, natural e fundamental para a compreensão de toda a história. Mas a verdade é que sabemos que isso não é assim. Estes dois, a sua vida, representam como pouco a America. Mas nessa mesma America, tanto como cá, a homossexualidade é considerada tudo menos do que natural. |
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