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  • 26.7.04
    O 20 Julho 1944 (um post atrasado)

    Na Terra da Alegria da última Quarta-feira o Carlos Cunha fez o que eu devia ter feito: Foi ele ali e não eu no Quase em Português que lembrou o sexagésimo aniversário da "Operação Valkíria", a mais famosa tentativa de assassinar Hitler, no 20. de Julho 1944.

    Este golpe falhado foi planeado por um grupo de altos patentes militares e de cidadãos da velha sociedade, conservadores, que desde cedo se recusaram a alinhar com a barbarie Nazi.
    Este grupo, liderado pelo antigo Chefe do Estado Maior, Generaloberst Beck, constituiu-se em 1938, e tentou desde então afastar Hitler do poder. Não conseguiu, no entanto, o apoio indispensável duma parte relevante da Wehrmacht, a única entidade capaz de enfrentar o poderoso aparelho do partido Nazi, a SA e a SS.
    Com cada ano que passou, o desastre para toda a Europa aumentou, e menos ficou para salvar.
    O que os conspiradores queriam salvar, era, naturalmente, em primeiro lugar a pátria. Queriam evitar que Hitler levasse Alemanha para uma guerra impossível de ganhar. Em segundo lugar - mas possivelmente sou muito injusto com estes homens que deram a sua vida se digo em segundo lugar - queriam por termo a guerra e a barbarie indizível desenvolvido pelos Nazi. Desde 1943 a "solução final", o extermínio em massa dos judeus, ciganos e homossexuais estava em pleno curso, um facto que ao grupo bem-informado dos conspiradores não ficou escondido.
    (Ainda assim, se o golpe do 20. de Julho de 1044 tivesse tido sucesso, mais do que metade das pessoas que morreram nos campos de extermínio teriam sido salvos.)
    Há por isso uma nota de desespero no atentado de 20. de Julho, e no terceiro objectivo, esse pelo menos parcialmente alcançado: Mostrar que houve pelo menos alguém, entre os alemães, que tentou acabar com o horror.

    Muitos dos conspiradores foram mortos no mesmo dia 20.de Julho, outros foram julgados pelo "Volksgerichtshof" e depois enforcados, por ordem especial de Hitler, como "porcos à abater".
    (Um pormenor interessante é que Hitler inicialmente tinha a intenção de tornar público as filmágens do processo, à semelhança dos famosos processos públicos de Estaline nos anos 30. Mas exhibições com umas audiências teste, que foram feitas, levaram-no a reconsiderar. A porte dos arguidos era de tal dignidade, em contraste com a dos acusadores, que as reacções do público deram-lhe a entender que a publicação das filmagens seria contra-producente.)

    Carlos Cunha destaca muito bem cristãos de ambas as confissões que arriscaram e deram a vida na luta contr a barbarie. Para além dos que mencionou há outros, famosos, como o bispo (católico) de Münster, Graf Galen (que conseguiu, pelo menos no próprio território alemão, por termo ao projecto indizível da "eutanasia", ou seja, o sistemático extermínio de doentes mentais), e certamente muitos desconhecidos, não menos meritórios por isso.

    Mas também houve uma "Reichskirche", uma igreja evangélica integrada e alinhada com o nazismo, na qual se encontravam milhões de "fieis", que não deram pela total incompatibilidade da mensagem cristã com o fascismo, ou não tiveram coragem para tirar as consequências (que não teriam logo que começar pelo martírio).

    A igreja católica soube manter uma maior distância ao fascismo, porque havia sempre Roma e o Papa, óbviamente para qualquer católico impossível considerá-lo subordinado a Hitler. Mas houve muita "diplomacia" da Santa Sé, e sobre o papel do Papa Pio XII já se escreveu muito...

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