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  • 29.7.04

    Esta é a fotografia vencedora do concurso World Press Photo 2004.
    Boas fotografias como eta têm o poder de alcançar directamente e emocionalmente as pessoas, e no meu caso, não me lembro duma que me comoveu mais. Vi naturalmente outras, de conteúdo ainda muito mais terrível, mas que têm menos impacto, porque o sofrimento neles retratado já afastaram o Outro tanto do meu mundo, que embora ainda posso sentir revolta, indignação e pena, já não me identifico duma forma tão imediata com ele.
    É isso o que é diferente nesta fotografia. Imagino-me, sem esforço, mesmo sem querer, nesta fotografia e no meu colo o meu filho Vicente. E atinge-me com toda a força a monstruosidade e violência desta situação, a sua inennaravel tristeza.
    Como o Celso Martins escreve no Barnabé, de onde copiei a fotografia, ela (eu acho até a situação nela retratada) ainda conserva uma réstia de esperança e dignidade humana. Não se chegou (ainda?) a total desumanização das vítimas, que é uma característica que este campo de concentração ainda distingue dos campos de concentração Nazi (ou da guerra na Bósnia).

    Essa fotografia, não tenho dúvida, deve ser tão incómoda para os senhores da guerra como os da Abu Ghraib. Quem, que olha para esta fotografia, vê outra coisa do que vítimas duma injustiça atróz? Eu não. Não vejo um combatente inimigo. Muito menos um terrorista. Vejo um pai, humilhado, que é obrigado de revelar ao seu filho de talvez quatro anos a sua total impotência para lhe dar segurança, conforto, nem sequer uma gota de água.

    Como não posso ver o Mal neles que criaram essa situação para este pai e o seu filho?

    Vejo a fotografia e não duvido um segundo que é mesmo isso, a verdade, o que vejo. Sei também que talvez (embora que não o acho muito provável neste caso), este homem é mesmo um perigoso combatente inimigo. Que neste caso, obviamente, teria que ser preso e desarmado. E as circunstâncias no terreno, sem intençao maldosa do vencedor podiam ter levado a essa situação.
    Este raciocínio podia adiantar se achasse esta guerra justificada.

    Não acho esta guerra justificada. E mesmo se achasse, não consigo deixar de sentir-me do lado do pai e do seu filho. Não consigo aturar a boa disposição dos responsáveis desta cena, os sorrisos dos senhores Bush e Blair.

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