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  • 15.7.04
    Egalité

    Há uma conhecida analogia, uma metáfora que é usada, pelos liberais e não só, contra o valor da igualdade:

    Olhem para um prado selvagem, em que cada planta e flor cresce como pode. Há flores maiores e mais pequenas, umas belas e outras nem por isso, o conjunto é duma indiscutivel riqueza e beleza.
    Agora aplica-se o preceito da igualdade:
    Com uma máquina corta-relva transformamos esse belissimo prado num relvado, em que cada herva tem o mesmo comprimento. Temos igualdade, uniformidade, nenhuma palhinha está agora em vantagem sobre outra...
    Olhem agora: Que triste empobrecimento da criação!


    Como todas as analogias, elas são convincentes em si, mas de questionável aplicabilidade ao caso ao qual se preteda aplicá-las.

    Uma tentativa de refutação podia ser essa: Mas onde está demonstrado que a aplicação do preceito da igualdade resulta num nivelamento para baixo? Mas acho, pelo menos dum ponto de vista estritamente económico, essa refutação está desprovido de fundamento.

    Onde esta analogia aplica mal, é aqui:
    Quem defende igualdade (em concreto aqui: eu), não defende uma igualdade dos resultados! Defende uma igualdade das oportunidades, ou seja, para ficar na analogia, que a qualidade do solo, a água, a luz do sol deveria estar disponível, na mesma medida, para todos. E assim sim: Se uma flor faz muita sombra às a sua volta, se lhes seca o solo, então ela tem que ser limitada no gasto dos recursos que são de todos.
    Mas isso é uma coisa muito longe do nivelamento por máquina de cortar-relva.

    Um outro erro nesta metáfora é que o ponto de vista do homem quem aprecia a beleza do prado não coincide com o nosso:
    Nos somos as flores, mais avantajados ou menos avantajadas. Ou seja partes interessados.
    Para elas há duas possiveis escolhas racionais (das quais nenhuma necessita um suporte transcendente!):

    Ou há luta, isto é, de cada um pelos seus interesses: A flor avantajada defende o livre crescimento, a lei do mais forte, enquanto as plantas fracas se juntam umas às outras, para ganhar poder de defender melhor a sua posição.

    Deixando de falar nos termos da metáfora: Antigamente, isso chamava-se luta das classes.
    Mas também há uma escolha, inteiramente racional, que opta, à partir da conclusão de que essa luta de classes acaba, no fim, de ser prejudicial para todos, por tentar conciliar os interesses, e assim garantir uma paz social. É o caminho que as democracias europeias (inspiradas pelas ideias da revolução francesa) já percorreram - ao nível interno - um bom bocado.

    Já uma vez escrevi no Quases em Português que acredito, ou pelo menos tenho a esperança, que isso foi e será a evolução da civilização: A sucessiva subordinação de egoismos individuais resp. de grupos mais pequenos, depois de estabelecido regras de moderação de conflitos entre eles, ao egoismo dum grupo maior que os inclui. Cujo último estado seria a civilização mundial, regida por uma lei, que defende todos e com que todos se identificam...

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