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  • 3.6.04
    A libertação das coisas

    Um dos aspectos mais desagradáveis em envelhecer é a inevitável acumulação de coisas que nos pertencem. Há quem goste disso, se a acumulação é acompanhada dum proporcional aumento de espaço de que dispõe: Casa maior, 2ª habitação, a quinta... Assim isso é vivido como experiência de expansão. (E tudo o que vive, sente expansão à partida como algo salutar.)
    Quanto a mim, sinto a acumulação como um fardo, e creio que não só porque me falta espaço.
    Lembro me com inveja da história dum povo - fictício ou não - da América Central, que Max Frisch conta (já procurei, mas não encontrei onde):
    Este povo abandonava de 54 em 54 anos as suas cidades e tudo que nelas tinha construido, destruia casas e templos, partia as loiças todas e migrava para um novo lugar no mato, onde arroteava uma clareira e comecava a construir tudo de novo, de raíz, para o próximo ciclo de vida.

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