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  • 29.5.04
    O tempo que demora fazer uma obra de arte

    Um membro da boa sociedade berlinense tinha encomendado um desenho ao famoso pintor Adolph von Menzel. Os dias, as semanas passaram, sem notícias do pintor, até o cliente, impaciente, resolveu visitá-lo e exigir o trabalho. "Espere um momento", respondeu este, e em vinte minutos lhe fez o desenho, à sua frente, que tinha todas as características da su mestria.
    O cliente, encantado, perguntou quanto devia. A resposta: 100 Taler.
    "100 Taler para vinte minutos?!" indignou-se o cliente.
    "100 Taler para vinte minutos de desenho mais setenta anos de ensaio", respondeu Menzel.

    Já ouvi esta anedota com outros protagonistas...

    É, de facto, um dos aspectos mais intrigantes na produção artísitca a relacão nada linear entre a sua qualidade e o tempo da produção. Ou mais precisamente: entre aquilo que constitui a sua essência e o tempo da sua produção. A produção - ou melhor: a exteriorização do núcleo artístico, o qual sempre é uma síntese altamente densificada, ocupa muitas vezes ridiculamente pouco tempo.
    Mas aquela síntese é sempre resultado de um processo de gestação, que antes não necessáriamente deixa registos exteriores e cuja alocação no tempo é muito difícil de fazer, mesmo para o próprio autor. Nesta gestação incluam-se processos que começaram muito antes do início da obra em questão. (O treino de Menzel.)
    O que é facil registar e quantificar, é o subsequente processo de testes, de afinação e de aperfeiçoamento, que - pelo menos na arquitectura - normalmente é imprescindivel e pode ocupar imenso tempo, embora em todo este tempo pouco ou nada se acrescenta àquilo que faz a obra (o projecto) valer a pena.

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