<$BlogRSDUrl$>




  • 29.4.04
    Uma pessoa que conhece o seu lugar

    No nosso prédio temos uma porteira. Uma mulher bem-educada, muito discreta, e sem verstígios de proletária, ou rural, que as porteiras frequentemente aparentam. É da minha idade ou um pouco mais velha (nos seus anos 40) e tem sempre um ar um pouco triste, mas de forma tão discreta, que ninguem no prédio, num momento de jovialidade, pudesse lembrar-se de perguntá-la pela razão. Ela é solteira e vive no minúsculo "fogo da porteira", e para além de alguma actividade na paroquia do nosso bairro, que julgo ter verificado ao longo dos anos, não lhe conheço nenhum interesse, relações ou actividades para além dos seus serviços prestados ao condomínio. Recentemente soube que lhe morreu uma irmã, um facto que motivou a sua ausência por uns dias. Antes não me tinha ocorrido que pudesse ter família.

    Ela é mesmo muito discreta, e também em tudo o resto todos os condóminos, muito deles já de alguma idade, que não costumam estar satisfeitos facilmente com qualquer coisa, estão muito satisfeitos com ela.

    Em tempos, o condomínio ponderou a venda do fogo da porteira e contratar os serviços que o condomínio necessita dela à ela ou outrem. Mas a proposta foi chumbada, porque não se adequa a um prédio onde residem médicos, engenheiros e arquitectos. E assim continuo tentar de habituar-me ao facto de que ela me liberta, sempre que passo pela caixa de escadas, com triste humildade o caminho e murmura, também na quarta o quinta vez, "Boa tarde, Sr. Arquitecto".

    Lembrei-me dela por causa da proposta do Nuno Guerreiro de abandonar os títulos Sr(a). Doutor(a) etc. no âmbito do projecto de limpeza da língua portuguesa lançado pela Sra. Lic. Charlotte...

    P.S.: Nuno: Para além de Portugal e Itália existe um país europeu que é capaz de superar estes dois na mania dos títulos: a Austria!

    This page is powered by Blogger. Isn't yours?

    Creative Commons License