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  • 6.4.04
    Sísifo

    Não tínhamos conseguido entregar o prémio. Ainda, com custo, identificáramos a morada, apesar da sua menção incompleta na declaração do autor.
    Por uma curiosidade talvez um pouco excessiva, desloquei-me pessoalmente para a casa do misterioso vencedor. Era uma pensão.
    Não, o senhor não estava em casa. Sim, a senhoria também achava estranho, o inquilino, um senhor já de alguma idade, não costumava ausentar-se por tanto tempo. Era um senhor pacato, afável, mas mesmo depois de tantos anos, não podia dizer muito dele.
    Não foi preciso um esforço grande para conseguir que ela me mostrasse o quarto. Um quarto de escritor. Repleto de livros, dossiers, cadernos, de pilhas de folhas. Com curiosidade penetrei o que se me revelou como uma obra vasta, embora obviamente não publicada. Mas era uma obra de fragmentos. Inúmeras primeiras páginas, inícios de contos ou de romances, versões e versões ou tentativas de poemas. Redigidas, anotadas e corrigidas vezes sem conta.
    Entre eles encontrei, numa única folha solitária, manuscrita e sem emendas, o texto que ganhara o nosso concurso de mini-histórias:

    Um dia Sísifo esqueceu que era Sísifo. Aí deu por si, como estava sentado no cume, a gozar, despreocupado, a bela vista.
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    Esta história, quase em português, ganhou também o concurso de mini-histórias da Ene Coisas.

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