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  • 18.4.04
    Eu? No 25 Abril 1974?

    Pergunta-me o Jumento onde andava no 25 de Abril 1974. Por acaso não pergunta exactamente isso, mas acho que a resposta que pretendia era a essa pergunta.

    Não vivia em Portugal e isso tem de servir de desculpa porque não me lembro do que fiz neste dia.
    Tinha catorze anos e vivia em Brüggen, uma vila alemã mesmo muito pacata (ca.de 6.000 habitantes) perto da fronteira holandesa. Sei que na altura andava com a Elke, que era a filha do chefe de polícia da capital do distrito, que o Willy Brandt se demitiu duas semanas mais tarde (isso fui verificar agora no Google) e que mais tarde no ano caiu o Nixon (sabia isso ainda sem ajuda do Google). Também ganhámos o campeonato do Mundo neste ano...

    Mas lembro me bem dum Sábado no fim deste verão, onde o meu primo Michael, dez anos mais velho que eu e estudante em Berlim, apareceu numa festa de família - um baptizado - com uma pilha de discos: "Poder Popular".
    O meu primo tinha-se deslocado este verão, como muitos dos seus colegas, para Portugual com o fim de ajudar que a revolução tomasse o caminho certo. Agora estava de volta e com a venda destas gravações de canções revolucionários, feitos numa cooperativa alentejana, tentava angariar fundos para a boa causa. Depois ia voltar à Berlim e prosseguir com os seus estudos. Era um rapaz ajuizado.

    Lembro me bem porque isso animou a festa, que antes disso era, como todas as festas deste género, dum tédio insuportável. Adorei o debate que se desenrolou, e que foi principalmente protagonizado, para além do meu primo, pelo meu pai e pelo meu tio Emil (Ex Waffen-SS), e adorei como implacávelmente ignoravam todas as tentativas desesperadas dos meus outros tios (todos beatos) para amenizar o clima e desviar a conversa. Também devo ter contribuido com a minha opinião - era bom em opinar nestes tempos, muito melhor do que hoje.
    O meu pai acabou de comprar dois discos, para compensar pelo tio Emil, que era o único que não comprou nenhum. Até os meus tios beatos compraram discos, provavelmente na esperança de assim acabar com a discussão...

    Nesta altura não me coloquei a pergunta que me intriga hoje: O que é que os Portugueses achavam de todos estes auto-proclamados instrutores da revolução, que, depois do fracasso do Maio '68 em casa, e cientes de que na RFA ninguém lhes ligava nenhuma, se julgavam com vocacão para ensinar aos pobres Portugueses o verdadeiro caminho para a sociedade sem classes?
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    Quando hoje passo pelo Alentejo, reparo, sempre com bastante incómodo, em alguns deles que ficaram, ou talvez uns anos mais tarde voltaram de vez, com uma pequena herança no bolso e o sonho de uma vida simples mas confortável na mente, e se estabeleceram como agricultores ecológicos, ou, depois disto se ter revelado demasiado árduo, como agentes imobiliários que vendem a costa vicentina aos meus compatriotas que ainda não realizaram a sua fuga da inhumana sociedade alemã...

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