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  • 3.4.04

    Cujo tema era isso mesmo: Concursos literários. Uma das histórias vencedoras é esta:

    Rascunhos

    Quando rasgo um papel fico sempre com pena remorsos. Pior ainda quando leva lá rascunhada qualquer palavra escrita. Ainda que seja só uma palermice, como esta, parece-me sempre injusto deitar a perder um pensamento. No entanto, nunca deitei a mão a um cesto para recolher uma folha amarrotada. Falta-me a coragem de enfrentar o que já é passado. Sou mulher de olhar em frente. (apagar esta ideia, fez-me azia)

    É estranho, porque não tenho medo do escuro, (só às vezes), nem das alturas, ou de aranhas... tenho muito medo de não me rever nas letras debitadas em momentos de devaneio. É que, quando escrevo sinto-me regressar ao início do século XX, qual surrealista em possessão artística. Corto as ligações à realidade aparente e vagueio flutuo qual budista em nirvana. Sinto-me agitada, mas numa serenidade que parece perpétua. E, na maioria das vezes, parece-me que escrevo com sem sentido. Mas sinto-me quase sempre feliz.

    Esta é uma noite diferente, porque aceitei o desafio. Escrevo, releio, corrijo a vírgula e o ponto final. É melhor apagar a ideia. Rasurar o que não interessa. Já está. Este não vai para o cesto cinzento ao lado da pilha das revistas velhas. Fica aqui. Há um concurso literário a decorrer. Nunca se sabe se eles gostam de textos rasurados...

    Susana Paixão

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