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31.3.04
É uma verdade trivial que a imagem que temos do outro não é o outro. E é uma verdade igualmente trivial que não podemos evitar as imagens. A razão diz nos que, para não lhe fazermos mais injustiça do que inevitável, e também para servir nos da melhor forma possível, devemos pôr em causa e reajustar continuamente a imagem que temos do outro, na medida em que obtemos novas informações, pois nunca dispomos de toda a informação sobre ele, e também porque que o outro não é um objecto estático. Assim, a imagem que temos do outro, embora nunca certa, está amarrado a ele e continua a depender dele. É uma imágem descritiva. Sempre provisório, uma hipotese a espera da sua revogação por uma melhor, procuramos evitar que ela se torna ficção... Mas a imagem tende para emancipar-se da sua orígem, ganhar vida própria e chegar a contornos muito distintos do seu objecto original. E não só por causa da distorção proveniente dos nossos preconceitos, daquilo com que nós a contaminamos. Imagens têm o dom de desenvolver uma verdade própria, segundo o seu potencial inerente. Enquanto o objecto original da imágem ainda está presente (e essa presença é sempre e inevitavelmente limitada), podemos controlar - razoavelmente, se nos fazemos o esforço necessário - a sua justeza. Mas na medida que este objecto deixa de estar disponível, o deslize gradual para a ficção é inevitável. Poieisis. E é bom que isso seja assim. Só é mau não estar consciente deste fenómeno. De que a imagem assim já nem é a tentativa da descrição da sua origem. Etiquetas: sel |
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