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18.3.04
Acho que já escrevi demais sobre o terrorismo, a Espanha e o Iraque, tendo em vista a minha falta de conhecimento de pormenor e de vocação de analista político. Não tenho mesmo ambição nenhuma de concorrer neste domínio com blogues que fazem isso com uma excelência e profundidade como o Adufe ou o Bloguítica, por exemplo. Mas quero aqui comentar a filosofia de fundo deste e de outros posts muito interessantes (do 17.03.04) do Liberdade de Expressão sobre esta matéria. O LE faz uma análise diferente da que se costuma ouvir seja à direita, seja à esquerda. Diz que não devemos criticar os espanhois pela decisão de sair da guerra do Iraque, porque não fazem mais do que agir no seu interesse. O argumento geral que sustenta essa ideia é o que a política não tem que ser ética, mas defender interesses: A ética (imperfeita) só pode e têm que emergir dos interesses. A ideia de que a ética emerge só e inevitavelmente dos interesses, faz parte da crença (diria quase religiosa) dos dias da infância do liberalismo. É a ideia de que basta deixar os interesses agir livremente, e o mundo se organizará automaticamente como deve. Mas se vejo que a história entretanto demonstrou brutalmente quais catástrofes podemos causar, se tentamos obrigá-la a força a um certo rumo, não vejo também que o laissez-faire nos trouxe os benefícios prometidos. Mas a minha crítica príncipal ao argumento do LE em defesa da nova política espanhola é outra: Não é nada líquido que o interesse duma pessoa ou dum estado exclui posturas solidárias que incluam sacrifícios a curto prazo. O Liberdade de Expressão parte erradamente do pressuposto, que o interesse da Espanha seria a cessão de ataques terroristas no seu terreno, já, e ponto final. Recusa a racionalidade duma política dum estado, que apesar de eventualmente (e neste caso já não só eventualmente) trazer-lhe prejuizos a curto prazo, pode beneficiar a comunidade em que se insere, e assim também a ele, numa medida que justifica o sacrifício. (Certamente é esse o raciocínio dos bem intencinados defensores da intervenção no Iraque...) Estados podem ter intuitos solidários, e tê-las pode ser racional. A própria existência de estados é a prova desta possibilidade. Porque eles são resultados da solidariedade de grupos, que subordinaram os seus egoismos a um interesse colectivo, por entender que isso acaba de beneficiar todos. As vezes parece-me - nos meus dias mais optimistas - que isso é que é a evolução da civilização: A sucessiva subordinação de egoismos de grupos mais pequenos, depois de estabelecido regras de moderação de conflitos entre eles, ao egoismo dum grupo maior que os inclui. Cujo último estado seria a civilização mundial, regida por uma lei com que todos se identificam... (Daí provém a minha insistência na legalidade internacional, e a consequente recusa da guerra do Iraque...) Etiquetas: sel |
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