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4.3.04
Estudei arquitectura em Berlim na altura quando lá decorreu a IBA (Exposição Internacional de Arquitectura), o que tinha a fantástica vantágem de que quase todas as semanas uma vedeta de estatuto internacional estava na cidade, o que resultava quase sempre numa conferência na Faculdade. Lembro-me da vez de Raimund Abraham - um menos conhecido arquitecto e professor da Cooper Union - que apresentava um projecto dum prédio de trinta metros de altura e de três metros de largura, que no interior era quase só escadas. Assumidamente inabitável. O homem foi tão apupado que não conseguiu terminar a sua conferência. Nesta altura, a Faculdade de Arquitectura da TU Berlin ainda estava fortemente politizada e dominada por quem lutava contra qualquer gesto arquitectónico que não cumpria uma função social, de preferência revolucionária. Dois anos mais tarde a sorte dum ex-aluno desta Cooper Union não foi muito, mas um pouco melhor: Daniel Libeskind conseguiu concluir a sua conferência sobre um projecto dele, que previa um prédio de dois mil metros de comprimento situado no baldio que era o Potsdamer Platz. Era um enorme parallelepipédico que depois dos primeiros quinhentos metros se levantava do chão para se estender até para cima do muro. Os meus colegas na audiência não gostavam, entre outro, que o homem não tinha nenhuma resposta convincente sobre as funções que previa neste volume de construção considerável. Em vez disto ele não parou de falar dos livros filosóficos e arquitectónicos que mais o marcaram e com cujas páginas rasgadas tinha revestido toda a maqueta. (O que tinha - isso era impossivel negar - um efeito lindissimo.) Pensavam muitos que a Faculdade de Arquitectura se despedia naquele dia de um tarado de que nunca mais ouvirá falar... Como podemos reclamar o estatuto de arte para a arquitectura, se negamos a ela o direito a manifestos, projectados e construidos? Que exploram e materializam ideias e conceitos novos? Que não têm que ser habitaveis, ou sensatas, ou baratas. Desde que não se gasta dinheiros públicos dedicadas a habitação, estou me completamente nas tintas para a habitabilidade. E relativamente a casa Farnsworth: Estarei tão sozinho e completamente pervertido pela minha formação de arquitecto moderno, quando admito que a aceitaria, se a fundação Farnsworth me fizesse o favor de oferecê-la, como casa de fins-de-semana? Prometo de habitá-la mesmo e de não alterar nada! Etiquetas: arquitectura, sel |
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