$BlogRSDUrl$>
6.1.04
A propósito do debate no Barnabé, relativamente ao post Ter coragem: Sou objector de consciência. Ao contrário dos jóvens israelitas, a mim não me custou nada. Excepto uma "Gewissensprüfung", um algo ridículo exame oficial a minha consciência. Na Alemanha a objecção de consciência é um direito constitucional desde 1948. Ninguem deveria ser obrigado, contra a sua consciência, participar num exercito que cometeu e possibilitou tantas atrocidades. Daí era lógico dar o direito ao jóvem de não se submeter a um regime de obediência (o que qualquer exercito é), que o pode levar a acções que não pode justificar perante a sua consciência. Quando decidi-me para a objecção de consciência, achei que era assim a lei e a intenção do legislador alemão. Mas não é. Só quem é, em qualquer caso, moralmente incapaz de matar (e não aguentaria a culpa subjectiva, se de facto chegaria a fazé-lo) é objector aceitável. Avisaram-me que a minha argumentação, que já tinha preparado e que achei irrefutável, lever-me-ia, inevitávelmente, ou para a tropa ou para a prisão. Porque é que não acho, em qualquer caso, impossível e injustificável matar. Nem acho, em qualquer caso, injustificavel lutar em grupos organizados. O que não posso, em consciência, é delegar a minha decisão quando e em que circunstâncias devo matar, à um superior ou uma cadeia de comando. Para mim, essa responsabilidade é intransferível. Houve quem me disse, neste caso, deveria alistar no exêrcito alemão, e até ponderar uma carreira de oficial. Talvez tinha razão, mas eu não tinha o estofo para isso. (Não sei se no momento de verdade, a minha consciência me guiaria bem...) E aqui colhe talvez a acusação de cobarde. Menos na questão da cobardia física, do que na moral. Porque não posso negar que eu, objector de consciência, vivo debaixo da protecção dos outros, não objectores, que se submeteram, ao contrário de mim, aos perigos físicos e morais, enquanto estou, claro que fisicamente não, mas moralmente à salvo. Porque não acho que podemos prescindir da protecção militar, sem sacrificar as nossas democracias ocidentais (apesar de tudo, delonge o melhor e mais humano que há, e a única esperança para que daí um dia evolui algo melhor...). Claro que não estou moralmente a salvo. Quem estará? Mas não era capaz. P.S.: Decidi nunca falar sobre o conflito Israel-Palestina, porque sou alemão. Como não tenho um cargo com responsabilidades, que me eventualmente - mesmo enquanto alemão - obrigaria a pronunciar-me, acho melhor deixar outros falar, que não têm, quando abrem a boca, como pano de fundo este terrível "património nacional", a autoria da shoah. Não é que não penso no conflito e que não tenha opinhões, mas como podia articulá-las, se já pessoas sem esta hipoteca não podem fazer entender-se, sem serem arrumados logo num campo ou noutro. |
|
||||
|
|||||