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17.12.03
Amanhã vou meter me no avião e voar para a terra da minha infância. Onde núvens baixas se perseguem em cima de prados, pántanos e florestas. Onde vou fazer caminhadas no vento e na chuva miudinha, encontrar as lontras, garças e memórias de outrora. Onde escurece às quatro de tarde. Voltar a uma casa com uma mesa posta e lareira acesa, cheia de crianças nesta época do ano, para a alegria de um casal cada vez mais velho, Filemon e Baucis talvez não são, mas me querem parecer. Uma casa visitada por um Pai Natal que fala alemão mas nunca ninguem viu, onde o menino Jesus anda mas nunca ninguem fala nele. Onde as crianças vão buscar a árvore de natal, num carrinho de mão, agasalhadas mas com os narizes encarnadas, no dia 23. Onde vão enfeitá-lo, só eles, sem intervenção dos adultos, com estrelas de palha, que fizeram este ano, no ano anterior e os seus pais em tempos quando tinham a idade deles. Onde as velas são de cera e a música não vem da aparelhagem. Vai haver natal este ano, como no ano anterior, e como no ano antes deste; e para o ano vai haver outro natal, e depois outro, e depois outro, mas não para sempre, não, vai haver um ano em que o natal vai ser diferente, em que a casa ficará mais vazia, as garças e as lontras mais estranhas e a chuva mais fria... _______________ Hälfte des Lebens Mit gelben Birnen hänget Und voll mit wilden Rosen Das Land in den See, Ihr holden Schwäne Und trunken von Küssen Tunkt ihr das Haupt Ins heilignüchterne Wasser. Weh mir, wo nehm ich, wenn Es Winter ist, die Blumen, und wo Den Sonnenschein, Und Schatten der Erde? Die Mauern stehn Sprachlos und kalt, im Winde Klirren die Fahnen. (Friedrich Hölderlin) ______________ Metade da vida Com peras amarelas E cheia de rosas bravas A terra pende no lago, Vós cisnes graciosos, E embriagados de beijos Mergulhais a cabeça Na água sobria, sagrada. Ai de mim, de onde tiro quando É inverno, as flores, e de onde A luz do sol E sombras da terra? Os muros estão Calados e frios, no vento Batem as veletas. |
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